quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Cimeira Ibero-Americana diz NIM às Honduras

A reunião de chefes de estado dos países ibero-americanos terminou em Cascais, com uma declaração de consenso mínimo sobre o tema que dominou as discussões dos últimos dias, o problema da legitimidade do governo das Honduras, onde o ex-presidente Manuel Zelaya, foi removido do poder por um golpe de estado constitucional, decorrente da alegação de comportamento ilegal e violação da constituição por parte do líder populista hondurenho.

Os portugueses, nomeadamente o ministro dos negócios estrangeiros Luís Amado, fizeram várias diligências e contactos entre os chefes de estado dos vários países para tentar chegar a um consenso mínimo, mas não foi possível uma declaração conjunta de todos os chefes de estado, resultado das posições irredutíveis por parte dos apoiantes do líder hondurenho deposto em Junho deste ano.

O dirigente venezuelano Hugo Chaves, nem sequer se deu ao trabalho de ir a Portugal e o presidente do Brasil, Lula da Silva, que passou algumas horas em Lisboa, disse mesmo que se soubesse que Honduras seria o tema principal da reunião de líderes ibero-americanos nem tinha vindo.

Em declarações à imprensa, Lula da Silva demonstrou continuar teimosamente ao lado dos dirigentes mais extremistas da América latina, como Hugo Chavez e o clã Castro, recusando sequer a legitimidade das eleições que decorreram no país centro-americano no passado dia 29.

O resultado foi uma declaração da presidência, e não uma declaração conjunta, mas nessa declaração a situação acaba por ficar senão esclarecida, pelo menos com um caminho aberto para uma solução do problema:

A declaração, que não obriga os estados que participaram, afirma que se continua a reconhecer o presidente deposto Manuel Zelaya como presidente legítimo das Honduras, mas só até ao final do seu mandato que deverá terminar dentro de aproximadamente um mês.

As eleições que se realizaram no passado domingo, decorreram dentro dos prazos constitucionais e teriam tido lugar, mesmo que Manuel Zelaya não iniciado um processo de golpe constitucional, ao tentar levar a cabo um referendo ilegal, que se destinava a permitir a Zelaya a continuação no poder, quando a constituição hondurenha é clara quanto à proibição de reeleição.

Participação elevada e isenta de incidentes

A elevada participação da população das Honduras na eleição de domingo, parece condicionar as posições de vários países. Há quatro anos, quando Zelaya foi eleito, a abstenção ficou em 54%, mas no domingo passado, ela baixou muito. Inicialmente previa-se uma abstenção de 47%, mas os valores finais vão certamente ficar muito abaixo, em torno de 37%. A perda de popularidade do presidente deposto era já evidente em todo o país, e mesmo dentro do Partido Liberal que apoiava Zelaya, a sua posição era periclitante.

Zelaya recorreu a uma força de jagunços pagos pelo regime venezuelano (um expediente tradicional dos regimes marxistas) que tentaram dar a impressão de que todo o país se levantava em favor de Zelaya. Como o numero de jagunços era relativamente pequeno, a policia hondurenha pode facilmente controlar a tentativas de desacatos e o processo eleitoral decorreu livremente. A prova, foi a elevadíssima participação, que num país em que o voto não é obrigatória, poderia envergonhar mesmo países europeus.

Reconhecimento inevitável, e como salvar a face de Lula

Sabendo-se que a economia de Honduras é especialmente dependente dos Estados Unidos e sabendo-se também que o país norte-americano deverá reconhecer o novo governo, é inevitável que ainda que lentamente os governos centro e sul americanos acabem por reconhecer o novo presidente depois de ele tomar posse.

Já no domingo, a Espanha que tinha afirmado não reconhecer a eleição, mostrava sinais de mudança de posição, perante um resultado eleitoral que ninguém colocou em causa, e acima de tudo perante a alta participação.

Durante a reunião em Portugal, os analistas também concluíram que é provável que se tente encontrar uma solução para salvar a face de Lula da Silva, que apostou tudo na carta «Zelaya», aparentemente como resultado de uma actuação absolutamente desastrada do ministério das relações exteriores, que levou Lula da Silva a uma posição de extremismo. As coisas vão ter que ser feitas, para que Lula não «perca a cara» e não seja ridicularizado internacionalmente, sendo associado a Hugo Chavez e ao clã Castro, num episódio que arrisca manchar a imagem internacional do Brasil, numa altura em que tudo tem sido feito para transformar Brasília num interlocutor global.

É provável, que logo que o novo presidente tome posse, a União Europeia acabe reconhecendo o novo governo sem grande alarido, ainda mais que este foi legitimado pelo voto inequívoco da população hondurenha. Países como a Colômbia, Peru, Costa Rica e Panamá já avisaram de antemão que vão reconhecer o novo presidente e os Estados Unidos é quase certo que farão a mesma coisa. A economia hondurenha está muito dependente das exportações para os Estados Unidos e das importações desse país. Os laços económicos mais importantes, são com os países que avisaram que vão reconhecer o novo presidente «Pepe Sosa».

Fonte: Área Militar (www.aeramilitar.net)
Destaques nossos.

Nota do Blog: 1 - Essa matéria, publicada num site português mostra a visão que grande parcela da comunidade internacional tem sobre a política externa do Presidente Lula e sobre seus aliados.
2 - A declaração do Presidente Lula de que nem teria ido à reunião se soubesse que Honduras seria o principal assunto talvez demonstre a posição de constrangimento em que o Brasil está, tendo em vista que cada vez fica mais difícil sustentar a sua intransigência sobre a questão. Além disso, pode ser interpretada como uma imaturidade do Brasil para assumir um papel mais importante no mundo, como o Conselho de Segurança da ONU (onde o Brasil não poderia se furtar à discussão, como fez com a questão nuclear do Irã e, agora, com Honduras).


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